Cidade dos Anjos

Onde habitas?
O que pronuncias?
E porque temes? 
Se achegue.
Me aconchegue. 
Me modifique..
Um pouco mais.

Quem iluminará as sombras do meu rosto?
Se eu pudesse, então eu iria.
Iria pra onde você for.
Mas some.

Sinto muito por não ter a mesma espessura
A mesma formosura
E por não ser como és.
Mas sinto muito mais por vir e ir
E nunca ficar.
Só eu volto, e volto do começo.
E o que faz senão torturar?
Eu sempre te cuidarei...

Chão de Giz

Nós não somos assim.

Nunca fomos e não somos levados ao vento.

Mas há algo em você que me leva. 

Me arrasta. 

Me entusiasma. 

Porém não basta.

Você não esconde nada em você,

Só esconde você.

De mim.

Isso preocupa... O fim.

Seus discursos mudaram muito.

Arrastaram minhas convicções. 

Me fizeram chorar e rir.

Até parece que fizeram o meu chão de giz...

Eu a lousa. Você o risco. 

Mas não se apaga quando quero. 

Risco que persiste. 

Que insiste.

Que não sai.

Mas cedo ou tarde,

Quando menos se espera, some...

É bom que não saiba 
O quanto me fixei em você.
É bom que não faça ideia 
Do quanto escrevo sem saber.
De que no meu universo,
Você é uma das galaxias.
E de que preso em um oceano,
Você é a voz mais rasa.
Que me afasta. De tudo.
Que me arrasa.
Que me arrasta, sem me dar distúrbios. 
É bom que não saiba
O quanto me confunde.
É bom que não faça ideia 
Do quanto deixei de dormir 
Pra pensar em como seria acordar com você...

Contraste

Houve um contraste muito grande.
Não sou a mesma.
E se mudei pra mim, quem dirá pra você...
Tem razão em relação a mim.
Eu sempre quero ter razão.
E isso te afasta aos poucos.
Quando eu te queria mais perto.
Enquanto eu desejava mais...
O calor do teu corpo,
E o suor da tua pele.
Os sussurros em meu ombro
E a voz incompleta.
Há um contraste muito grande.
Em como desejo você e você a mim.
Alguém de nos dóis se precipita,
Mas ninguém fala quem.
E tudo vai,
Mas nem sempre vem.
Há sempre um contraste muito grande.
Isso é tudo o que sei. 

Me cansei de estar aqui
Reprimida por medos infantis.
Eu tento sentir,
Mas sua presença não me deixa em paz.
Porque não vai? 
Porque não quis ser passageiro? 
Porque não optou ser fugaz? 
Não sofreríamos.
Não nos mataríamos.
Interiormente.
Seu rosto assombra meus únicos sonhos agradáveis.
Seus passos sussurram nos meus ouvidos.
Parecem mais vozes vorazes. 
São amores sem fim?
...

Não poderia esconder o vazio que mostro sem você saber.
Nunca se mostrou ser tão frio...

Você nunca sabe detectar o problema.
Mas você é a causa dele.
É parte dele.
E parte de mim.
E quando foge,
Quando quer sair de mim,
Eu sinto algo bem profundo.
Semelhante a uma voz que tenta sair junto com o eco.
Ou como a humildade junto com o ego.
E que só tenta, mas não sai.
Como a chuva que tenta fazer algo a mais,
Mas só cai.
Semelhante a quando eu grito pra mim,
Mas pros outros, estou muda,
Você é a causa de um problema
E a solução de dois.
Você é parte dele.
E todas as partes de mim.

Realmente acreditei que dessa vez seria diferente. 
Pensei que a perspective mudaria.
Que as pessoas acolheriam junto comigo, o grande receio que tenho. 
Pensei em deixa-los. 
Pensei em partir mesmo sem querer.
Não consigo desprender. 
Não consigo mais fingir.
Preciso mover-me na areia movediça. 
Preciso manter-me firme no caminho inseguro.
Me entregar ao que é incerto.
Naufragar junto e chegar até o fundo.
Preciso não recorrer mesmo que precise.
Preciso não recusar.
Preciso aceitar mesmo que não queira...